Depoimento do Dr Adriano Cirino, médico homeopata e fitoterapeuta sobre plantas medicinais:
Aos amigos e pacientes,
Venho até você pra refletirmos sobre o papel das plantas medicinais e fitoterápicos na “arte de curar”. Pra tanto precisamos compreender melhor o que é adoecer e mais ainda, o que é curar.
Adoecer é perder o estado de equilíbrio natural do organismo e da mente. A doença surge como resultado da desordem entre as funções orgânicas (nosso terreno biológico), as funções da mente (nossos aspectos emocionais e psicológicos) e o meio que nos cerca (incluindo agentes infecciosos, fatores ambientais, climáticos e nutricionais). Então, adoecer não é um evento simples, mas sim um processo com múltiplos fatores intricados, que muitas vezes se somam durante um longo tempo para desencadear os sintomas do adoecimento.
Uma vez ampliados nossos horizontes sobre o que é adoecer, vamos à “arte de curar”. Mas como falar de cura sem falar de saúde. O que lhe vem à cabeça quando falamos em vida saudável? Na minha surge uma gostosa e diversificada alimentação com muitas verduras, frutas e grãos, atividade física freqüente, paz de espírito e alegria na vida. Dessa maneira, a arte de curar é muito mais que apenas acabar com uma doença. Consiste em curar nossas relações com o alimento, com o corpo e com toda a diversidade de fatores que a vida nos traz dia após dia (desde as variações climáticas aos vírus e bactérias, passando pelos conflitos na vida pessoal e profissional). Logo, “a arte de curar” consiste na cura de nossas relações com o mundo.
Em termos do organismo humano, os maiores e mais importantes mediadores da nossa relação com o mundo são os sistemas imunológico, hormonal e nervoso. Em equilíbrio, esses três sistemas formam a santa trindade da saúde. Nossa dimensão psicoemocional utiliza-se do sistema nervoso para se comunicar com as glândulas do corpo e com o sistema imunológico, modulando suas capacidades de reação e resposta aos estímulos externos nocivos. Estes, por sua vez, interagem mutuamente auxiliando na manutenção do equilíbrio interno do corpo, alterando o estado imunológico e a produção hormonal. Assim, formam uma riquíssima rede de conexões absolutamente inteligente dentro de um organismo vivo.
Fica a pergunta: como imaginamos alcançar o conhecimento pleno dessa infinita inteligência que rege a vida e seus instrumentos? Será realmente possível conhecermos com tal abrangência e profundidade a vasta rede de interconexões que compõe o corpo humano? Existirá alguma forma de intervirmos bioquimicamente no funcionamento orgânico, sem quebrar esse equilíbrio tão delicado que nosso corpo possui na relação entre suas diversas partes? É aí aonde entra o papel das plantas medicinais na cura.
Toda a vida no planeta deriva de uma mesma fonte segundo as teorias vigentes. Uma mesma célula iniciou a vida e toda a diversidade existente hoje no mundo deriva evolutivamente dela. Desta maneira, toda forma de vida possui uma assinatura ancestral comum. Os reinos vegetal, animal e humano estão em íntima interação. As plantas entram no processo de cura como parte do poder regenerador que a rede tecida pela complexidade da vida no planeta possui, não como uma terapêutica que compete com os fármacos químicos, pois há de se respeitar o papel de tudo que foi criado pelo homem. A despeito de nossa inconsciência, somos parte integrante da natureza e desta forma nossos adoecimentos estão previstos nas necessidades de equilíbrio e harmonia que essa tessitura cuida de preservar. Ao contrário de escolher um único princípio ativo para atuar pontualmente nessa imensa teia, o fitoterápico atua com uma complexidade harmônica de elementos que trazem em si a mesma assinatura ancestral das nossas próprias células e desta forma com grande potencial curativo.
O que se observa com a prática da fitoterapia é que os efeitos colaterais dos agentes curativos presentes numa dada planta são minimizados por outras substâncias presentes nela mesma que harmonizam a ação curativa do vegetal. Dessa maneira, a cura se dá de forma mais suave, profunda e regeneradora e não apenas de forma paliativa ou a esconder as verdadeiras causas da doença. As plantas medicinais também nos trazem a possibilidade de atuar quando os sintomas ainda são vagos e imprecisos, antes mesmo que se manifeste uma doença específica no corpo. Tais sintomas já sinalizam uma alteração da função normal de algum(uns) sistema(s) do corpo e os fitoterápicos possibilitam uma eficaz ação preventiva.
Recentemente vimos uma massificação de informações desrespeitosas à fitoterapia sendo veiculadas pelos grandes instrumentos da mídia, cujas motivações reais estão distantes de serem o bem estar e a saúde das populações. Vivemos uma lógica mercadológica de consumo e a saúde não ficou de fora dessa. Ou melhor, a doença, já que saúde mesmo não traz lucros às indústrias da peste, da fome e da guerra, as grandes patrocinadoras da desarmonia em nosso mundo. Basta que olhem quem lucra com isso tudo e saberão de quem falo. Tal desrespeito vai além da fitoterapia ocidental enquanto tradição, contradiz todos os sistemas médicos milenares cujas bases se encontram no uso das qualidades curativas das plantas, a exemplo da Medicina Ayurvédica (indiana) e da Medicina Tradicional Chinesa.
Convido a todos para um olhar mais crítico e integrado sobre o mundo que nos cerca. Convido a construirmos juntos uma renovadora visão a cerca do que é saúde e dos instrumentos realmente capazes de promovê-la, protegê-la e recuperá-la. Reitero que a mesma Inteligência que rege a “teia da vida” proporcionou sabedoria ao homem e à mulher para transcenderem através da ciência os limites do que a Natureza nos oferece. Entretanto, não podemos renegar a Grande Mãe, zombando de suas dádivas com intenções tão pouco nobres. Convido-nos ao propósito maior de progredirmos, desvendando nossa verdadeira natureza interna na medida em que aprendemos a respeitar a grandiosidade da natureza que nos cerca.
Abraço fraterno no coração de todos vocês,
Adriano Cirino
(CREMEB: 17.272)